Apesar de, dentro da comunidade
acadêmica atual os conceitos “Lei Natural”, “Lei da Física” e “Teoria da
Física” serem praticamente indistinguíveis, pode-se perceber, no entanto,
diferenças no modo como são divulgadas e percebidas.
Há uma espécie de hierarquia entre o que chamamos de
leis e o que chamamos de teorias, de tal forma que o que chamamos de uma
lei da Física, mais exatamente uma lei natural, não pode ser desafiada sem
um milagre e é algo tido como suficientemente validado para receber este
prestigioso título, indesafiável.
Até onde consigo perceber, o que conhecemos como
“leis da física” não são efetivamente leis positivas, ou seja, não são
produto deste ou daquele pesquisador, não sendo nem mesmo produto de
qualquer mente humana. Elas são leis naturais, são regras que antecederam,
controlaram e ainda regem o funcionamento do mundo, da realidade portanto,
e independem de nossa capacidade de percebê-las ou enunciá-las.
Nestes casos o pesquisador apenas verifica como a natureza
funciona e produz um enunciado que descreve com precisão suficiente para
produzir previsões. O pesquisador não tem o menor controle sobre a lei que
enuncia, produto de observação de regularidades no funcionamento e na
estruturação da própria natureza.
Em geral, na fase atual do nosso conhecimento, os
enunciados das leis descrevem fenômenos e eventos, sendo fruto de
observações e racionalização das mesmas.
Já o também prestigiado título de “teoria” em geral é
atribuído a teses que apresentam algum nível de comprovação experimental e
de coerência, mas ainda produzindo paradoxos e regiões de sombra e
penumbra, de forma que ela pode até estar correta em termos gerais, mas não
é completa, além de, em geral, ter teorias concorrentes (o que não ocorre com
as teses as quais alçamos à categoria de “leis”).
Aparenta-me que na atualidade, geralmente chamamos de
“teorias” às teses que tentam explicar o mecanismo pelo qual são produzidos
os efeitos que conhecemos de modo consistente para determinadas situações
(e cuja descrição chamamos de “leis”).
Tomando como exemplo a gravitação de Newton, o
conceito que ele verificou existir descreve uma lei natural, afirmando que
a força gravitacional é mutuamente atrativa e diretamente proporcional às
massas e inversamente proporcional às distâncias entre seus centros de
massa, apesar de, a rigor, ser também uma teoria, extremamente bem
sucedida, aliás.
Já que o grande mestre não formulou hipóteses sobre o
mecanismo que produziria a força gravitacional, não havendo contradição
entre os efeitos observados e a descrição do fenômeno, a definição dele
apenas descreve uma lei natural (não sendo efetivamente uma lei do Newton,
portanto), que várias teorias tentaram ou tentam explicar
(empenamento de espaço-tempo, grávitons, sombra-empurrão, vórtices e
expansão cósmica, dentre outras).
Por melhor que seja uma explicação ou descrição da
realidade, a observação da realidade é que define a validade dos modelos
que utilizamos para descrevê-la.
Atualmente considero muito difícil, se não
impossível, que apenas uma das diversas teorias que tentam descrever o
funcionamento do mundo de maneira exclusivista consiga fazê-lo de forma
adequada.
No meu humilde ponto de vista um modelo completo
acabará utilizando-se de várias ideias, provenientes de modelos atualmente
concorrentes ou mesmo considerados obsoletos, como que formando um grande
quebra-cabeças, que mostrará um quadro finalmente completo e com mais gente
parcialmente correta do que hoje desconfiamos.
Da mesma forma que Einstein, considero que “a
natureza é exatamente simples”. E também que ainda não produzimos um
modelo simples como ela, de modo a descrevê-la com a simplicidade
decorrente desta condição, o que é também mais ou menos o que diz o Stephen
Hawking:
“Entretanto, se descobrirmos de fato uma teoria
completa, ela deverá, ao longo do tempo, ser compreendida, grosso modo,
por todos e não apenas por alguns poucos cientistas.”
Os modelos exclusivistas que atualmente temos
produziram explicações tão complicadas que mesmo especialistas discordam em
questões fundamentais, o que é desproposital para explicar algo se este
algo for “exatamente simples”, como pede Einstein.
Em relação a isto, atualmente considero que diversas
teorias estão fundamentalmente corretas, mas que falta encontrar uma
maneira destas teorias se encaixarem com perfeição para o modelo ficar
completo.
Uma parte das pessoas pode passar milênios sem pensar
nisto mas, para quem resolveu investigar a realidade, que aparenta-me ser o
caso dos frequentadores deste espaço de discussões, o nível de exigência há
de ser estratosfericamente maior. Por isso acabo questionando os modelos
pois, mesmo que estejam fundamentalmente corretos, por serem claramente
incompletos, ainda propiciam dúvidas.
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O mundo é simples, é tudo igual, é tudo célula de
convecção.
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