Robson Z. Conti
Pesquisador Senior
Joined: 09 Jan 2012
Posts: 389
Location: Jundiaí
|
Posted: Fri Aug 31, 2012 10:42 pm Post subject:
|
|
|
Vou aproveitar este evento para tratar deste
assunto com um pouco mais de detalhes. Pois, apesar de nosso conhecimento a
respeito deste assunto não ser nem perto do que gostaríamos, é evidente que
nossa mente fica excitada quando deparamos com um tipo de ciclo repetitivo,
o que nos leva a procurar explicá-lo com as informações que temos.
Como é
amplamente aceito pela comunidade científica, a crosta do nosso planeta
está dividida em diversas placas tectônicas, as quais possuem movimento em
sentidos diversos, o que acaba sendo responsável pelos eventos sísmicos que
felizmente são raros em nosso país, mas corriqueiros como uma simples chuva
em outras regiões do planeta.
Apesar da
divisão, as placas tectônicas são todas encostadas e interligadas, de forma
que eventos aparentemente distantes e desconectados, são na verdade
interdependentes. De forma bem geral, o sentido do movimento de cada uma
das principais placas é:
- Placa
Africana: nordeste, afasta-se das Américas.
- Placa
Sul-americana: noroeste, afasta-se da África.
- Placa
Norte-americana: noroeste/oeste/sudoeste, afasta-se da Europa e da África.
O fato do afastamento se dar em diversos sentidos é devido à costa leste
estar derivando para noroeste, a região central para oeste e a costa oeste
para sudoeste, o que pode ser observado no endereço...
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Global_plate_motion.jpg
- Placa de
Nazca (oeste da América do Sul): leste, afasta-se do Oceano Pacífico.
- Placa do
Pacífico: noroeste, afasta-se das Américas.
- Placa da
Eurásia: nordeste/leste/sudeste, afasta-se da África e da América do Norte.
Este caso é similar ao da América do Norte, pois a Europa deriva para
nordeste, a Ásia central para leste e o oriente da Ásia para sudeste.
- Placa da
Arábia: nordeste, afasta-se da África.
- Placa
Indiana: nordeste, afasta-se da África.
- Placa
Australiana: nordeste, afasta-se da Antártida.
- Placa
Antártica: praticamente imóvel. Este é um caso muito especial, a placa
praticamente não se move mas o continente antártico se distancia o tempo
todo da dorsal que a separa do restante do planeta, conforme eu já detalhei
no artigo...
http://forum.if.uff.br/viewtopic.php?p=8206#8206. Cada placa se distancia dela a taxas
irregulares (em torno de 9 cm Pacifico, 6 cm América do Sul, 1,5 cm África
e 7 cm Austrália). Dá a impressão de fazer o papel de uma trava que mantém
o encaixe das demais placas.
Estes
afastamentos são mútuos, de forma que, por exemplo, nos 3,5 cm de
afastamento entre a América do Sul e a África, estão tanto o movimento do
nosso continente (em torno de 1 cm sentido noroeste) quanto da África (em
torno de 2,5 cm sentido nordeste)
Acredito que
pode ter sido notado (e estranhado) que todas as placas estão se afastando,
mas isto é absolutamente normal, visto que os continentes estão derivando,
com a ocorrência de um fenômeno chamado “crescimento do leito oceânico”. Só
que do outro lado, sempre tem alguma placa se aproximando ou mesmo
diminuindo, sendo absorvida pelas regiões de subducção, com exceção da
Antártida e da África, as quais não possuem regiões de subducção e todas as
dorsais se afastam delas, para o que ainda não encontrei explicação, mas
que entendo que não é algo com que devamos nos ater no momento, pois isto
não afeta a tentativa de explicar a regularidade observada em termos de
atividade sísmica.
No caso em
questão, quando da ocorrência da regularidade que me permitiu prever a
região (oeste da América do Sul) e a magnitude de um tremor (eu previ M7+ e
ele foi M7.3) temos um significativo aumento da atividade sísmica na dorsal
que separa as Américas da África e da Europa, seguido por um aumento da
atividade de médio porte (M5.0 a M6.9) em diversas partes do mundo,
passando em seguida a ao menos um evento de maior intensidade (M7 para
cima) na região oriental do Pacífico, o qual é seguido de ao menos um
tremor de intensidade similar na costa oeste das Américas. Ocorre também de
uma diminuição dos tremores de menores magnitudes (menores que M5) nos dias
que antecedem aos tremores acima de M7.
Como se pode
perceber do quebra cabeças de placas mais acima descrito, que pode ser
melhor acompanhado ao visualizar o mapa no link do Global Plate Motion
(deriva continental com base no GPS) e o mapa encontrado no endereço...
http://pubs.usgs.gov/gip/dynamic/graphics/Fig1.jpg
...entre a
América do Sul e a África há uma fenda da qual emana magma e força o
afastamento dos dois continentes.
Quando há um
aumento na quantidade e principalmente na potência da atividade sísmica nas
dorsais que nos afastam da África é porque passou a haver a necessidade de
um maior esforço para que este afastamento se produza pois, já que ali as
duas placas estão se afastando, não deveríamos ter eventos mais fortes, o
que denota que alguma resistência está sendo oposta em outros locais.
Pelo lado da
América do Sul, o que se contrapõe a este afastamento é a placa de Nazca, a
qual “nasce” poucos milhares de quilômetros a leste da costa chilena, em
processo idêntico ao que existe entre a África e a América do Sul, ou seja,
uma fenda da qual jorra o magma que faz o crescimento das placas. Pelo lado
da África a oposição é feita apenas pela placa do Pacífico, pois as placas
africana, arábica, australiana, indiana e eurasiana derivam para o leste.
É interessante
que o material que forma a placa do Pacífico sai da mesma fenda a oeste da
América do Sul onde também flui material para formar a placa de Nazca, a
qual se opõe à deriva da América do Sul, ou seja, apenas duas fendas, (com
dezenas de quilômetros de extensão, no entanto) provêm material e
equilíbrio de forças para termos relativa estabilidade neste planeta.
Em resumo,
como a placa do Pacífico é que se opõe à deriva da África para leste e a
placa de Nazca, a qual se opõe à deriva da América do Sul para oeste, está
encostada na placa do Pacífico (do lado oposto ao lado da placa do Pacífico
que se opõe à deriva da África), então a oposição que resulta em maiores
atividades sísmicas na dorsal (as tais fendas de onde emana o magma para o
crescimento das placas são assim chamadas) entre as Américas e a África são
originadas da Placa do Pacífico.
Como o magma
continua saindo e empurrando os continentes, os pontos que estavam
produzindo esta resistência começam a ceder um atrás do outro, inicialmente
onde tínhamos menor resistência em todas estas placas (entre a placa
africana e a do Pacífico existem as placas africana, arábica, australiana,
indiana e eurasiana) e, finalmente, nos pontos finais, sempre na placa
Pacífico ou de Nazca, ou seja, no extremo oriente e na costa oeste das
Américas, os tremores são maiores.
Aparenta-me
que o fato de tremores de menor porte diminuírem muito em quantidade nos
dias que antecedem a tremores de maiores proporções deva-se ao fato das
placas terem entrado em uma condição de forte oposição aos seus movimentos,
o que impede a maioria dos tremores, gerando a necessidade de liberação de
um ou mais pontos que estejam travando ao conjunto, produzindo com isto
sismos maiores.
Conforme já
disse em outro texto, os grandes tremores na costa oeste das Américas têm
sido mais ao sul (o tremor de M7.3 foi pouco acima da linha do equador), o
que me deixa um tanto quanto intrigado com a relativa calmaria mais ao
norte, no trecho que vai da costa oeste do México até o Alaska.
Ali há uma
situação especialmente interessante, pois a placa norte-americana e a do
Pacífico movem-se muito rapidamente para o oeste, com a placa do Pacífico
movendo-se com muito maior velocidade que a norte-americana. Não me parece
um lugar muito promissor nos próximos dez ou vinte mil anos.
[]s
PS: Eu já
tinha preparado este texto quando ocorreu mais um sismo de grandes
proporções na porção oriental do Pacífico.
MAP
7.6 2012/08/31
12:47:35
10.838 126.704
34.9 PHILIPPINE ISLANDS REGION
Conforme
coloquei mais acima, quando esta sequência de eventos se passa, há “ao
menos um evento de maior intensidade (M7 para cima) na região oriental
do Pacífico, o qual é seguido de ao menos um tremor de intensidade
similar na costa oeste das Américas”. Como já tivemos dois do lado de lá,
isto pode estar indicando que a tensão pode não ter sido totalmente
liberada na placa do Pacífico. Barbas de molho, portanto.
_________________
O mundo é
simples, é tudo igual, é tudo célula de convecção.
|
|